Mensageiro: Seis dos nove prefeitos presos na 4ª fase tiveram contatos registrados com operador

Mensageiro: Seis dos nove prefeitos presos na 4ª fase tiveram contatos registrados com operador

Investigação revela interações de políticos e servidores das prefeituras com o acusado de entregar as propinas em dinheiro vivo em troca da manutenção de contratos com a Versa Engenharia

Documentos da Operação Mensageiro revelam contatos entre prefeitos e servidores públicos presos na 4ª fase da investigação do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) com o “mensageiro”, profissional da Versa Engenharia apontado como operador de propinas em troca de favorecimento em licitações públicas.

As interações telefônicas foram usadas como provas pelo MPSC para pedir e justificar buscas e apreensões, além da prisão preventiva dos acusados. Dos nove prefeitos detidos na última fase da operação, seis tiveram contatos com o “mensageiro”, que assinou acordo de delação premiada e tem o nome protegido por decisão judicial que impede a imprensa de citá-lo nominalmente. Consultada pela reportagem, a defesa do delator preferiu permanecer em silêncio.

Além dos prefeitos, segundo a investigação, em Ibirama, o contato do entregador da propina foi com um secretário municipal, e em Corupá, os registros são de contato entre o prefeito e um dos sócios da empresa, também delator homologado pela Justiça, com nome protegido por ordem judicial.

Em meio às investigações da Operação Mensageiro, a companhia apontada pelo MPSC como centro do esquema de corrupção mudou de nome, passando de Serrana Engenharia para Versa, e mantém diversos contratos com prefeituras catarinenses, como já noticiou o Grupo . Procurada, a empresa preferiu não se manifestar.

Em Bela Vista do Toldo, uma das cidades onde a investigação começou no Planalto Norte, o atual prefeito, que foi preso na 4ª fase, não tem registros de interação com o “mensageiro”, ao menos no material ao qual o Grupo teve acesso.

Veja abaixo o que o MPSC narra em cada um dos casos

Guaramirim – O prefeito de Guaramirim, Luis Antonio Chiodini (PP), foi detido na noite de terça-feira (2), após voltar da Inglaterra. Segundo as análises do MPSC, Chiodini fez 28 contatos com o “mensageiro” em 15 datas diferentes, entre agosto de 2019 e setembro de 2021.

Entre 2017, no primeiro mandato do prefeito, e 2022, foram firmados 14 contratos com a Versa no município. Em 2019, a gestão transferiu R$ 5,1 milhões e, em 2021, mais R$ 11 milhões para a Versa, então Serrana.

“[…] a correlação dessas transferências bancárias com as datas dos contatos entre o mensageiro e Chiodini, demonstram verossimilhança com os fatos ora investigados. Considerando, ainda, que, conforme demonstrado pelas ERB’s [torres de celular], o mensageiro esteve em Guaramirim nas datas dos contatos com Chiodini, infere-se que nas ocasiões tenha ocorrido pagamento/recebimento de propina, relacionados aos contratos do município com a empresa investigada”, aponta a análise do MPSC.

O Grupo  fez contato com o advogado do prefeito Luis Antonio Chiodini, mas não recebeu retorno.

Imaruí – O prefeito Patrick Corrêa (Republicanos) passou por audiência de custódia em Florianópolis e foi conduzido para o Presídio Masculino de Tubarão. O munícipio de Imaruí fechou 16 contratos com a Serrana, sendo que um deles, firmado em 2021, estava vigente até março de 2023.

Segundo a investigação, além dos 15 registros telefônicos de Patrick entre março e outubro de 2021, foram registrados “novos registros telefônicos em 29 de março de 2022, oportunidade em que o mensageiro e Patrick estavam em Imbituba compartilhando os mesmos dados de antena”.

O advogado do prefeito Patrick Corrêa (Republicanos) de Imaruí informou que a defesa não vai se manifestar nesse momento por que o processo está em sigilo.

Schroeder – Na gestão do prefeito Felipe Voigt, também preso na 4ª fase da operação, são dois contratos de 2022 na mira da investigação, ambos de iluminação pública. O MPSC registra duas interações dele por telefone no ano de 2021 com o “mensageiro”, além de um possível encontro em pessoa.

Massaranduba – O prefeito Armindo Sesar Tassi (MDB) está preso no Presídio de Blumenau. Entre 2010 e 2020, a prefeitura pagou R$ 3,4 milhões para Versa, mas os contratos de maior valor são aqueles ligados à administração de água e esgoto do município, cuja licitação se deu em 2019.

O prefeito está no cargo desde 2017 e, segundo o MPSC, foram sete contatos diretos com o “mensageiro”, entre junho e setembro de 2021.

Três Barras – O prefeito de Três Barras, Luiz Divonsir Shimoguiri (PSD), está preso no Presídio de Joinville. O político ocupou o cargo em outras duas oportunidades (2005-2008 e 2017-2020). Os contatos entre o “mensageiro” e o prefeito aconteceram, segundo o MPSC, nas seguintes datas: 11/08/2017, 21/12/2017 e 23/08/2018.

“Salta aos olhos que em muitas das datas das transferências [de dinheiro] nos anos de 2017, 2018 e 2021, [o mensageiro] se encontrou com LUIZ SHIMOGUIRI”, relata a investigação, que cita mais dois servidores do município como ponto de contato com o operador da propina.

Major Vieira – O prefeito Adilson Lisczkovski (Patriota) está no sistema penitenciário de Florianópolis. Entre 2010 e 2022, a Versa recebeu R$ 881 mil da prefeitura. Segundo o MPSC, “identificou-se sete chamadas apenas com o prefeito investigado ADILSON” em um dos celulares usados pelo “mensageiro”.

Investigação aponta contato de servidor com mensageiro e de prefeito com empresário que virou delator

Ibirama – Por conta dos contratos da Versa com a prefeitura, o prefeito, Adriano Poffo (MDB) e o secretário de Administração, Fábio Fusinato, foram presos preventivamente. No caso desta cidade, os relatórios de interceptação, pelos menos nas primeiras fases da investigação, não trazem contatos de Poffo com o “mensageiro”.

Mas Fusinato, segundo os documentos, foi um dos agentes públicos que mais manteve contatos telefônicos conhecidos com o pagador de propinas, aponta o MPSC. “Das análises de bilhetagens foram localizados, até o momento, 79 registros telefônicos entre Fábio e o mensageiro, iniciando-se no ano de 2017 e com último registro conhecido em maio de 2021, havendo concretos indícios que os contatos e encontros continuem a ocorrer.” Os últimos 11 contatos registrados com o operador do esquema aconteceram nos dias 27 e 28 de maio de 2021.

O contrato firmado pela prefeitura em 2014, para coleta de lixo até 2019, segundo a análise do MPSC, “ficou muito além do crescimento populacional” subindo de R$ 961 mil para R$ 3,1 milhões. No final ano de 2019, houve novo processo licitatório para contratação de idêntico serviço. “Sem surpresa, novamente foi a empresa Serrana Engenharia que se consagrou vencedora da licitação.”

Bruno Dallabona, defensor do prefeito Adriano Poffo, informa que “a defesa só irá se manifestar após o seu depoimento a ser prestado amanhã [sexta, 5], onde esclarecerá os fatos e provará sua inocência”. Na mesma linha, Miguel Soar, que defende o secretário de Administração de Ibirama, Fábio Fusinato disse que “a defesa também prefere não se manifestar por o caso está em sigilo do grau 5″.

Corupá – O prefeito Luiz Carlos Tamanini (MDB) está no Presídio Regional de Itajaí. Segundo a investigação, “notou-se diversas interações”, como troca de mensagens de texto e áudio entre um dos sócios da Versa, agora delator, e Tamanini. Neste caso, também não há registro, pelo menos nas primeiras fases da investigação, de contato direto do prefeito com o “mensageiro”.

No alvo dos investigadores estão contratos de iluminação pública. O mais recente no valor de R$ 2,2 milhões foi assinado em outubro de 2022.

O advogado de Luiz Carlos Tamanini não quis se manifestar.

Grupo não conseguiu contato com os demais advogados dos prefeitos citados.

FONTE: nd+

João Vianna

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