Brasil tem terceiro pior índice de saúde mental em ranking com 64 países
Relatório global mostra ainda que mundo não recuperou queda no bem-estar psíquico observada durante a pandemia
O Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental dentro de um ranking com 64 países, à frente apenas do Reino Unido e da África do Sul e 11 pontos abaixo da média geral. É o que mostra a nova edição do relatório anual do Estado Mental do Mundo, divulgado nesta quarta-feira. O levantamento, encomendado pela organização de pesquisa sem fins lucrativos Sapien Labs, mostrou ainda que a população global não recuperou o declínio no bem-estar psíquico observado durante a pandemia da Covid-19.
A pesquisa coletou 407.959 respostas pela internet, quase meio milhão de indivíduos, de países de todos os continentes habitáveis do planeta, em nove idiomas diferentes. Em sua terceira edição – a primeira incluindo o Brasil –, o relatório busca traçar um panorama da saúde mental da população mundial e também de cada nação.
Para isso, foi atribuída uma nota a cada entrevistado partir de aspectos emocionais, sociais e cognitivos no chamado quociente de saúde mental (MHQ, da sigla em inglês), uma escala de 300 pontos que vai de -100 a 200. Nela, as pontuações negativas (de -100 a 0, classificadas como indivíduos “sofrendo” ou “lutando”) indicam um impacto ruim, geralmente associado a 5 sintomas negativos de saúde mental ou mais.
Já aqueles acima de 100 (de 100 a 200, classificados como pessoas que estão “tendo sucesso” ou “prosperando”) são considerados os positivos, com uma bom bem-estar psíquico. Com isso, é gerada uma média das respostas para cada país, e para o mundo, que fica entre 0 e 100 – quanto mais perto de 0, mais pessoas sofrendo e, quanto mais perto de 100, mais indivíduos com uma boa saúde mental.
No geral, o mundo registrou um MHQ de 64, com 27% dos respondentes registrando notas negativas e 38% com pontuações acima de 100. Embora o número de pessoas com registros positivos seja maior, ele sofreu um declínio acentuado em 2020, com a pandemia, que ainda não foi revertido.
Em 2019, numa pesquisa com uma amostra menor de países, a nota foi 90, 26 pontos superior à atual. No ano seguinte, com a Covid-19, despencou para 66. Em seguida, na edição do relatório de 2021, que já contava com 34 países, o índice desceu para 64. No ano passado, a nota se manteve estável, porém no patamar mais baixo. No mesmo período, o percentual de pessoas “sofrendo” ou “lutando” aumentou de 14% para 27%.
“Em 2022, o bem-estar mental permaneceu o mesmo de 2021, não apresentando recuperação após o declínio substancial de dois anos associado à pandemia de Covid-19. Assim como no pico da pandemia, quase um terço da população ainda lutava com sua saúde mental”, escreveram os autores.
Já o Brasil estreou na pesquisa com um MHQ de 52,9, atrás apenas da África do Sul, que teve uma nota de 47,5, e do Reino Unido, que pontuou 46,2 – o pior índice de todos os países analisados. Em relação ao percentual de pessoas com saúde mental negativa, 33,5% brasileiros (1 a cada 3) relataram múltiplos sintomas, terceiro país com a maior proporção atrás também das nações africana e europeia.
Na outra ponta, Tanzânia, Panamá e Porto Rico tiveram as maiores notas do quociente: 93,6; 88,2 e 88, respectivamente. Já os países com menor percentual de pessoas sofrendo foram Sri Lanka (16,1%); Porto Rico (17,4%) e República Democrática do Congo (17,4%).
Jovens têm quadro pior
O relatório destaca ainda que a população jovem é a mais afetada, com aqueles entre 18 e 24 anos tendo uma probabilidade cinco vezes maior de relatar queixas de saúde mental em comparação com a geração de seus avós.
Na região da América Latina e do Caribe, por exemplo, enquanto menos de 15% das pessoas entre 55 e 64 anos tiveram pontuações negativas no índice, entre 18 e 24 anos esse percentual foi acima de 50%. Isso quer dizer que mais da metade dos jovens desses locais relataram sintomas clínicos de transtornos de saúde mental.
“Não há uma única região, grupo linguístico ou país onde o declínio do bem-estar mental em gerações sucessivamente mais jovens não é aparente. Isso se traduz em um aumento dramático na porcentagem de cada geração mais jovem que está mentalmente angustiada ou lutando em um nível qualificável como de natureza clínica ou requerendo ajuda profissional”, escrevem os autores.
Essa diferença, observada em todas as nações, é mais acentuada no Peru, onde o número de jovens na categoria negativa da escala é 46,2% maior do que o dos adultos mais velhos. O Brasil é o nono país com essa maior discrepância: são 39% mais pessoas de 18 a 24 anos relatando os problemas quando comparado aos de 55 a 64 anos. Os pesquisadores ressaltam ainda que esse é um padrão anterior à pandemia.
FONTE: O GLOBO