Jogo do Tigrinho transforma vida de uma família de Santana do Itararé em drama doloroso
Ex-funcionário público municipal conhecido na cidade, casado e após vicio em apostas, Lorival Guarnieri, morador da cidade com pouco mais de seis mil habitantes, acumula mais de R$ 100,00 mil de dívidas e comete suicídio.
Este é o caso de Lorival Guarnieri, homem de 52 anos de idade, morador de Santana do Itararé, no Norte Pioneiro do Paraná, que acabou tirando sua própria vida por dívidas financeiras acumuladas após seu envolvimento com o famoso e letal “Jogo do Tigrinho”.
A esperança de ganhar dinheiro fácil leva muitos a se envolverem em jogos de azar, mas o que frequentemente acontece é o oposto: grandes perdas financeiras e crescente endividamento. A promessa de enriquecimento rápido resulta, na maioria das vezes, em prejuízos substanciais e intenso estresse psicológico.
Em casos extremos, o desespero gerado pelas dívidas pode levar algumas pessoas a tragédias, como o suicídio. A dura realidade por trás desses jogos muitas vezes é subestimada, ocultando o verdadeiro custo emocional e financeiro para aqueles que buscam uma solução rápida.
DO VÍCIO PARA A MORTE
Lorival morava com a esposa Arlete de Lourdes Azevedo, de 49 anos de idade. O casal estava junto há mais de 20 anos. Lorival era motorista da ambulância da saúde de Santana do Itararé e amava estar no bar com seus amigos para confraternizar, conta a companheira.
Tudo começou devido a um problema de saúde que ele descobriu. Ele amava estar nos bares com os amigos e beber nos fins de semana, mas ele teve que se abster da bebida por conta da doença.
O drama vivido pela família começou quando Lorival descobriu uma doença que o impedia de beber, o que o abalou muito. “Tudo começou devido a um problema de saúde que ele descobriu. Ele amava estar nos bares com os amigos e beber nos fins de semana, mas ele teve que se abster da bebida por conta da doença”, relata Arlete.
Com o diagnostico impedindo o consumo da bebida, Lorival começou a se entristecer e, por ter um histórico familiar depressivo, acabou entrando em um estado de tristeza maior. Foi nesse momento de vulnerabilidade que o “Jogo do Tigrinho” entrou em sua vida. “Foi então que surgiu o ‘Tigrinho’, que começou a dar algum dinheiro e ele gostou do dinheiro fácil”, relembra.
A princípio, Lorival parecia estar tendo sucesso com o jogo, chegando a ganhar cinco mil reais em um único dia. Este sucesso inicial, que transformou a vida do casal em momentos dolorosos, fez com que Arlete também se interessasse pelo jogo, que estava dando muito dinheiro a Lorival naquele momento.
“Foi nesse momento que o jogo me atiçou. Ele me mostrava os altos valores conquistados no jogo e eu comecei a me interessar. Cheguei a realizar um jogo, investi R$ 20,00 e, ao contrário dele, acabei perdendo tudo”, comenta Arlete. Foi nesse momento que os olhos de Arlete foram abertos e ela aconselhou o companheiro a não continuar, mas ele insistia na facilidade do jogo.
O celular dele só ficou relacionado ao jogo, não tinha mais nada além do jogo
“Ninguém ganha dinheiro fácil na vida Lorival”, disse Arlete ao companheiro, que não deu ouvidos e disse que ela não sabia jogar e que iria ensiná-la. “É que você não sabe jogar. Deixa-me te ensinar como que joga. Tem que ter as manhas para ganhar dinheiro com o jogo. Foi o que ele me disse”, conta Arlete.
O sucesso de Lorival foi inicial, porém, não durou. As perdas começaram a aparecer e, com o tempo, a se acumular. Com o passar dos dias, Lorival se viu cada mais preso em um ciclo vicioso de apostas. “O celular dele só ficou relacionado ao jogo, não tinha mais nada além do jogo”, lembrou a companheira.
As dívidas começaram a se multiplicar, colocando Lorival em uma prisão viciosa, onde tentava recuperar o dinheiro perdido. Com isso, Lorival teve um prejuízo de mais de R$ 100 mil, o que o aprisionou em seus pensamentos e fez com que tomasse uma decisão impactante de tirar sua própria vida.
As dívidas dele começaram a aumentar. Era o banco, o jogo, pessoas de quem ele tinha emprestado dinheiro para tentar recuperar o prejuízo do jogo, além das contas familiares
“As dívidas dele começaram a aumentar. Era o banco, o jogo, pessoas de quem ele tinha emprestado dinheiro para tentar recuperar o prejuízo do jogo, além das contas familiares”, comenta Arlete. Foi então que Lorival começou a se afastar da família, que tentava dar suporte, mas ele não contava sobre as dívidas.
Com o tempo, a família descobriu sobre as dívidas de Lorival. Ao conseguir desbloquear o celular dele, Arlete e seu filho descobriram sobre as dívidas, cobranças e pedidos de empréstimos. Segundo relatos de Arlete, a partir de maio Lorival não conseguia mais pagar suas contas por conta do jogo.
Foi então que a família começou a ajuda-lo, sanando praticamente todas as dívidas dele. Quando estavam quase todas pagas, Lorival não aguentou à vontade e apostou oito mil reais, que iriam ser utilizados para pagar o saldo restante, no “Jogo do Tigrinho” e acabou perdendo tudo de novo.
Ele tinha prometido que iria parar de jogar e apostar nosso dinheiro nisso, mas não aguentou e gastou o dinheiro que serviria para pagar a última dívida dele. Acredito que ele estava preocupado em esconder de nós e não queria de descobríssemos a verdade
Com medo de que Arlete descobrisse o feito, Lorival deu um jeito de esconder o aplicativo do banco do celular de Arlete, alegando ter excluído sem querer. Contudo, no início do mês de agosto, no dia em que pagaria a sua última dívida, Lorival acabou tirando sua própria vida dentro da própria casa.
“Ele tinha prometido que iria parar de jogar e apostar nosso dinheiro nisso, mas não aguentou e gastou o dinheiro que serviria para pagar a última dívida dele. Acredito que ele estava preocupado em esconder de nós e não queria de descobríssemos a verdade”, comenta.
A tragédia, que marcou a vida de Arlete no início deste mês, serve como um alerta doloroso de como jogos de azar podem destruir vidas. A história de Lorival ilustra a necessidade urgente de uma regulamentação mais rigorosa desses jogos e como um alerta para os usuários destas plataformas, de que na vida tudo tem um preço.
INFLUENCIADORES PRESOS
Como se não bastasse as propagandas pagas pelas redes sociais, influenciadores, muitos deles da própria cidade, prometem rios de dinheiro através do Jogo do Tigrinho. Tais influenciadores publicam fotos de carros de luxos, casas e até mesmo barcos adquiridos através dos dividendos do Jogo do Tigre.
Nas últimas semanas, diversas notícias emergiram sobre a prisão de influenciadores digitais envolvidos em atividades ilícitas, como rifas ilegais e o Jogo do Tigrinho. Esses casos têm levantado sérias preocupações sobre o impacto desses comportamentos na sociedade, especialmente no que diz respeito ao vício em jogos de azar e à influência que esses indivíduos exercem sobre seus seguidores.
Fonte “Folha Extra”