Vereador nega que fez ataques racistas e ameaças de morte a parlamentar que repudiou cassação de colega em SC

Vereador nega que fez ataques racistas e ameaças de morte a parlamentar que repudiou cassação de colega em SC

Ana Lúcia Martins (PT) disse ter recebido e-mail assinado pelo vice-presidente da Câmara de São Miguel do Oeste, cidade onde Maria Tereza Capra (PT) foi cassada após denunciar suposta saudação nazista.

O vereador e vice-presidente da Câmara municipal de São Miguel do Oeste, Vanirto Conrad (PDT), negou que tenha feito ameaças e ataques racistas contra outra vereadora de Joinville, no Norte catarinense. No domingo (5), Ana Lúcia Martins (PTrelatou ter recebido um e-mail com as ofensas e supostamente assinado pelo parlamentar.

A mensagem foi destinada a ela após Ana Lúcia se manifestar contra a cassação da vereadora Maria Tereza Capra (PT), da mesma cidade de Vanirto, que denunciou um ato com suposta saudação nazista em novembro de 2022.

O gesto ocorreu durante manifestação antidemocrática na cidade em que Maria foi eleita, localizada na região Oeste. Na madrugada de sábado (4), ela perdeu o mandato sob alegação de quebra de decoro parlamentar.

“Se esse e-mail porventura existir, só pode ser fruto de invasão de minhas redes sociais ou de alguém que criou um e-mail falso em meu nome para criar um factoide político”, disse Conrad.

No e-mail, o vereador é citado como presidente da Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste. No entanto, o político compõe a mesa diretora como vice. Ao g1 SC no domingo, ele afirmou que fez um boletim de ocorrências sobre o caso.

A reportagem não teve acesso ao documento, mas questionou a Polícia Civil nesta segunda-feira (6) se o caso já é investigado e aguardava retorno até a última atualização do texto.

Pedetistas, Conrad também é alvo de um processo de expulsão dentro da própria legenda após a informação de que teria sido apontado pela Polícia Civil catarinense como líder de manifestações golpistas depois das eleições.

Em nota, a Câmara de Vereadores de Joinville disse repudiar “todo e qualquer ato de discriminação e agressão”. O legislativo de São Miguel do Oeste não havia se manifestado até a última atualização do texto. A prefeitura da cidade afirmou o município foi construído “por pessoas de várias descendências” e que há “respeito, trabalho e união” (leia abaixo).

As intimidações recebidas por Ana Lúcia também foram direcionadas à parlamentar cassada e também para Giovana Mondardo (PCdoB), que é vereadora de Criciúma, no Sul catarinense. “A vitória final virá e iremos matar você, a Giovana, o Manoel Dias”, dizia o e-mail.

Manoel Dias, presidente do PDT catarinense, o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o ministro da Justiça Flávio Dino e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também são citados no e-mail.

Suposta saudação nazista

Em 2 de novembro de 2022, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) afirmou que iria investigar o conteúdo de vídeos publicados nas redes sociais que mostravam um grupo de pessoas fazendo um gesto semelhante a uma saudação nazista.

As imagens viralizaram nas redes sociais e o Museu do Holocausto, em Curitiba, chegou a classificar como ‘ultraje’ a situação. Políticos como a vereadora cassada de São Miguel do Oeste também falaram sobre o caso na internet.

Em 12 de dezembro, a investigação sobre gesto suspeito foi arquivada, após o MPSC concluir que foi uma “resposta dos manifestantes ao chamamento feito pelo orador que conduzia o ato para que todos erguessem a mão para emanar energias à frente”.

Segundo a Lei federal 7.716/89, é crime “fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo“.

Vereadora cassada

Após o posicionamento de Capra, a vereadora passou a ser ameaçada e precisou deixar a cidade. Ela também chegou a ser incluída no Programa de Proteção dos Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos. No domingo, a pasta prestou solidariedade a parlamentar cassada.

“A violência política e de gênero, os discursos de ódio e as ameaças antidemocráticas são e serão vigorosamente combatidas pelo MDHC, que reitera seu compromisso inabalável com Estado Democrático de Direito neste país”. O Senado também pediu que a Polícia Federal investigasse as ameaças contra ela.

O que diz o vereador

Quero informar que jamais enviei tal e-mail, aliás nem conheço, e nunca tive nenhum contato com Ana Lúcia Martins, vereadora do PT de Joinville, que me acusa de tais fatos. Se esse e-mail porventura existir, só pode ser fruto de invasão de minhas redes sociais ou de alguém que criou um e-mail falso em meu nome para criar um factoide político. Informo que já registrei um Boletim de Ocorrência esperando que esta situação seja elucidada com a maior brevidade possível, e os responsáveis por estas notícias falsas sejam punidos na forma da lei.

O que diz a Câmara de Vereadores de Joinville

A Câmara de Vereadores de Joinville recebeu a informação de que a Vereadora Ana Lúcia Martins foi vítima de ameaças e falas racistas, no último final de semana.

O poder Legislativo da maior cidade de Santa Catarina repudia todo e qualquer ato de discriminação e agressão que a referida vereadora tenha sofrido e se solidariza com a mesma para os esclarecimentos devidos.

Por isso o Presidente da Câmara de Joinville, Diego Machado, colocou toda estrutura da casa à disposição para prestar o apoio necessário de forma irrestrita até a elucidação dos crimes praticados.

O que diz a prefeitura de São Miguel do Oeste

São Miguel do Oeste foi construída por pessoas de várias descendências, credos e cores, tendo em comum o orgulho e amor por esta terra.

Aqui tem respeito, trabalho e união; valores que nos transformaram na oitava melhor cidade de pequeno porte do Brasil. Não somos, e jamais seremos, nazistas.

Reconhecemos a independência entre os poderes, e não ficaremos calados diante de ataques de quem sequer nos conhece, ou que usa da má-fé para tentar deturpar a realidade.

Não nos acovardaremos e nem aceitaremos gestos covardes.

A Justiça já reconheceu a inexistência de qualquer alusão ao crime de nazismo em manifestações aqui ocorridas, e confiamos que tratará com rigor aqueles que insistem em uma mentira para ofender nossas famílias.

FONTE: g1

João Vianna

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